Barra das Guias

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Nada como um dia após o outro…

 

… ou um encontro após o outro.

“O primeiro ensaio é sempre, em certa medida, como a ação de um cego guiando o outro (…) Num grupo que se reúne para um primeiro ensaio, seja um elenco improvisado ou uma companhia permanente, um número infinito de questões e preocupações pessoais pairam silenciosamente no ar (…) O objetivo do que quer que se faça no primeiro dia de ensaio é o de chegar ao segundo” (Peter Brook, O Teatro e seu Espaço).

Concordo plenamente com Brook, o primeiro dia de encontro tem como objetivo chegar ao segundo. Apesar da minha primeira aula ter sido bem elaborada, minhas previsões foram totalmente furadas e a aula foi um caos: pra mim e para os alunos-atores.

Eu me senti como um diretor-coronel (conforme Grotowski cita) alguém que manda e quer ser obedecido. E isso estraga o ator para a sua própria arte e criação. Não posso ser um coronel em sala-de-aula: como libertar aos alunos para a criatividade???

Assim, veio a segunda aula para que eu me corrigisse e corrigisse meu percurso metodológico, já que “quaisquer que sejam as idéias que traz no primeiro dia, estas precisam evoluir continuamente” (Brook).

Planejei a segunda aula de forma a melhorar no que eu creio que é necessário (do que percebi na primeira aula) para que os alunos consigam desenvolver o básico de um ator-criador (ou do que eu pense que isso seja). Isso depende de cada caso (cada escola, cada estabelecimento de ensino teatral), já que no curso que ministro, sou eu que elaboro os objetivos e metodologia da prática.

Assim, na segunda aula, além de reforçar toda a teoria que apresentei no primeiro dia (do treinamento-ensaio-apresentação) também reforcei a idéia que Eugenio Barba cita na introdução de seu livro – a qual existem duas técnicas de comportamento do homem: a) a técnica cotidiana, que segue o princípio do menor esforço (menor energia) para o máximo de resultado; e b) a técnica extracotidiana, que se baseia no máximo de emprego de energia para um resultado mínimo. (maiores informações: aqui e aqui)

“O primeiro passo para descobrir quais princípios que governam um bios cênico, ou vida, do ator, deve se compreender que as técnicas corporais devem ser substituídas por técnicas extracotidianas, isto é, técnicas que não respeitam os condicionamentos habituais do corpo. Os atores usam essas técnicas extracotidianas” (Eugenio Barba, A arte secreta do Ator, dicionário de antropologia teatral). (livros do Eugenio Barba, aqui).

Com este conceito praticavel, passei a segunda aula também a investir no treinamento em busca de movimentos extracotidianos, e em busca da consciência corporal, concentração e improvisação sobre movimentos extracotidianos.

E dessa vez, a aula foi interessante. Foi simples, fácil e criativa.

Obrigado

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Estímulos para o Treino com Máscara Neutra

Esta postagem é uma continuação da série sobre a Máscara Neutra. Se não leram a primeira e a segunda postagem, leiam que são introdutórias.
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            (...)Depois de ter em mãos a máscara neutra para o treinamento, o que fazer??? Pô-la no rosto e sair fazendo macaquices? NUNCA!!!!
            A máscara neutra traz a sensação de estar portando um “algo mágico”, pois traz consigo a idéia do personagem, o personagem que é a máscara do ator. Contudo, por ser uma máscara genérica, na qual todas outras poderiam surgir desta, ela traduz uma neutralidade na interpretação, uma essencialização nela mesma.
            Para a aplicação da máscara neutra no meu treinamento sozinho, eu tive que buscar a formação sobre a máscara (feita no primeiro post desta série) e então busquei, segundamente, algumas dicas de temas de exercícios dentro de cada literatura que fiz pesquisa (porque não achei em nenhum lugar sequer, exemplos descritos de exercícios prontos para o treinamento com a máscara. Então, com a minha liberdade de estudante-praticante que não tem ninguém observando se faço certo ou errado, fiz a minha série de estímulos para exercícios de máscara neutra – porém baseado em que já ouvi e li a respeito).
            Assim, fiz uma cata de menções de “temas” de exercícios dos dois pesquisadores-teatrólogos para fundamentar meu treino e aqui repasso o que escrevi a mim mesmo: 

a) Menções provindas das pesquisas de COPEAU (mencionada por DECROUX, às vezes transcrita por quem escreveu o TCC [minha amiga] ou a TESE [Luiz Louis] [estão misturado as fontes de quem peguei estas citações]:      
  • Nessas aulas [de máscaras], os alunos improvisavam, quase nus, temas como o nascimento da primavera, o crescimento das plantas, o vento nas arvores, as seqüências de movimentos feitos por uma maquina ou, simplesmente, Copeau dava uma palavra, Paris, para que desenvolvessem ações. 
  • Nós reproduzíamos sons da cidade, das casas, da natureza, dos choros dos animais. Tudo com a boca, as mãos e os pés. (Decroux, sobre representação com máscara)
  • [Com a máscara] Um corpo não precisaria ser, necessariamente, um corpo cotidiano, mas poderia corporificar uma sensação, uma idéia ou até mesmo representar um objeto (...) Em muitas improvisações realizadas com a máscara, o corpo dilata-se e gera um novo significado, podendo representar o venta, a paixão, um vegetal, etc. Ele [Copeau] propunha que nos aproximássemos da essência humana mais pela imaginação do que pela razão.
  • Nunca tinha visto imobilidades prolongadas ou explosivos movimentos seguidos de petrificações repentinas (Decroux, sobre representação com máscaras).
  • Improvisavam sobre temas do nascimento, das emoções, da descoberta de si no ambiente, comportamento animal, características humanas nos animais e vice-versa;
  • Esses treinamentos [com a máscara neutra] baseavam-se em improvisações silenciosas, que tinham como principais temas os quatro elementos da natureza, a dinâmica dos animais e situações que envolviam ações humanas.  Eram realizados individualmente e em grupo com temas como: “o ser que vai comer geléias no armário”, “o roubo”, “o ser que se sentou num formigueiro”, “um ser que saiu à noite no vento e na chuva”, “dor de barriga”, “batalhas”, entre outros.
  • Mimávamos ações modestas: um homem importunando uma mosca, quer ver-se livre dela; decepcionada com a cartomante, uma mulher a estrangula; um oficio, um encadeamento de movimentos de máquina (Decroux).
  • Reproduziam-se a vida da cidade, do campo, dos animais, faziam-se ruídos com todas as partes do corpo, sendo que, nesse jogo compunham o roteiro de ações que executavam.
  • Copeau resgatou os jogos de infância e o faz-de-conta para dentro do treinamento.
  • Sobre o Nascimento da máscara. – A máscara toma consciência da sua existência. Jogo dos músculos do pescoço. Levantar a cabeça. Olhar. À direita. À esquerda. Olhar suas mãos. Seus pés. Se levantar. Andar.
  • O tema da infância sempre esteve presente em suas propostas [de Copeau]. O objetivo desta abordagem é fazer com que o aluno volte a lidar com o mundo com o frescor da primeira vez, a ver e tocar os objetos como se não os conhecesse.
  • Outra situação motriz da improvisação é a espera.
b) Menções provindas das pesquisas de LECOQ: (mencionada em seu livro, e às vezes transcrita por quem escreveu o TCC [minha amiga] ou a TESE [Luiz Louis] [estão misturado as fontes de quem peguei estas citações]:      
  • Lecoq trabalhou ainda sobre os elementos da natureza, as matérias, os objetos, os animais, as pinturas, ou seja, tudo o que está diretamente relacionado com o homem e aquilo que o cerca.
  • Os temas trabalhados com a máscara são simples em seu enunciado, mas difíceis em sua profundidade. Como por exemplo, despertar pela primeira vez; descobrir a natureza; o adeus; o lançar a pedra. A improvisação permite ao ator tornar-se aquilo que ele vê, reconhecendo seus ritmos.
  • O trabalho com os elementos da natureza constitui um dos temas centrais da máscara neutra. A natureza referente a este tipo de jogo se coloca inicialmente de maneira calma, em equilíbrio, fala diretamente com o neutro. Trata-se de uma viagem simbólica que vai do primeiro estado de calma ao estado extremo de revolução.

       Diante destes estímulos, baseei meu treinamento com a máscara neutra. Faço bastante o trabalho com a qualidade de energia provinda dos elementos da natureza: terra, água, ar e fogo – elas, aliás, já me deram uma base na minha cena, por assim dizer.

        Contudo, o restante do treino é com quem o pratica. Então se vocês estão fazendo um treinamento solo (ou não), não tenham medo de tentar fazer. O máximo que pode acontecer é não dar certo – mas pelo menos você tentou.

E Boa Sorte! 

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Máscara Neutra: a Confecção

Esta postagem é uma continuação da Máscara Neutra. Se não leram a primeira postagem, leiam que é bem mais introdutória que estas posteriores.
Neste post, comentarei sobre a metodologia de confecção de máscaras.
Na verdade, existe dois métodos (no meu ponto de vista, hihihi...): Um para quem tem grana (pelo menos um pouco), paciência e quer ter qualidade. E uma outra metodologia (parecida) pra quem quer ter menos trabalho em fazer, mais barato e (no meu ver) mais rápido.
a) O jeito bom de fazer uma máscara neutra é realizar os passos que o Grupo Moitará cita em seu site.Usa-se gesso, argila, gesso, empapelamento (papel e cola), tintas e sei-lá-mais-o-quê;
b) A partir da idéia da metodologia anterior, eu somente pulei os passos mais caros (gesso, argila, gesso) e acabei comprando uma máscara de plástico de carnaval de 1,99. Claro que uma máscara sem expressão alguma (inexpressiva, neutra). A partir dela, usei papeis para fechar o buraco dos olhos e nariz e pulei para o passo de empapelamento da máscara através da técnica do Art Attack do Disney Channel (risos). Fiz umas 7 camadas de empapelamento. Depois retirei a máscara-base (a de 1,99) da minha máscara de papel e com essa nova máscara feita de papel pintei-a com tinta acrílica branca (1 dia de secamento da tinta) Depois disso, preguei um elástico branco nela, com grampeador de escritório e colei umas espumas (Scott Brite parte amarela fofinha) na parte de dentro da máscara (para deixar um espaço entre meu rosto e a máscara propriamente dita). E assim, minha mascara neutra barata foi confeccionada.
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Eu sei que o jeito que eu fiz não é o certo, o correto, o de qualidade, mas me serve para fazer o treinamento. A única coisa que se deve considerar ao fazer a máscara e deixá-la sem expressão na face (não pode nem estar triste nem alegre – inexpressiva) porém tem que parecer que é um rosto humano. Ou seja, não pode parecer um E.T., mas pelo menos lembrar a face humana inexpressiva.
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Digo isso, pois foi o que meu amigo (que é formado em Artes Cênicas) que me disse quando eu sugeri essa idéia de empapelar a máscara de 1,99. E depois, em nenhum momento Copeau ou Lecoq (em seu livro “O Corpo Poético”) diz que a máscara precisa ter a forma do rosto da pessoa que a fez de molde, mas suas máscaras nobres (neutras) são fabricadas por Sartori e são todas iguais (só procurar no google por “máscara nobre sartori”).
Pois então é isso nesta postagem.
A próxima postagem tratará dos estímulos sugeridos para o treinamento com este tipo de máscara. Até lá.
Obrigado.










segunda-feira, 6 de junho de 2011

Sobre Máscaras no Treinamento do Ator

Sobre Máscaras no treinamento do Ator: tem como? Claaaaaaaro!!!! Claro que tem como usar máscara no treinamento do ator e não venha abrindo a boca de surpresa porque isso é teoria velha – surgiu na primeira metade do séc XX.

Mas como descobri isso? Claro que busquei me (in)formar com quem já tinha usado (e tirado 10,0 no TCC sobre este tema). Peguei o TCC de uma amiga formada em Artes Cênicas no qual foi meu primeiro contato com a temática da Máscara NEUTRA para o treinamento do ator.

Mas o que é Máscara Neutra??? Leia Aqui e aqui também.

A partir desta idéia da máscara neutra e do Tcc da minha amiga, fiquei conhecendo dois pesquisadores que usaram este tipo de máscara para o treinamento do ator: Jacques Copeau e Jacques Lecoq.

Sobre o primeiro Jacques, o Copeau, Luiz Louis comenta lindamente sobre ele e seu “remédio” que era a máscara neutra para o ator.

Para saber mais sobre Jacques Copeau, achei esta tese de Luciana Machoski (UDESC) na internet: “O ator para Jacques Copeau”.

A Máscara Neutra também foi utilizada no treinamento do ator por outro pesquisador chamado Jacques Lecoq. (sobre Lecoq, ler aqui). Este pesquisador, mais chique, escreveu um livro próprio, intitulado: “O Corpo Poético – uma pedagogia da criação teatral”. Nele, Lecoq nos fala da, entre tantos treinamentos, também da utilização da máscara neutra dentro da sua Escola.

Para fins de melhor entendimento, esta postagem foi mais para entender que existe uma técnica de treinamento que se utiliza da máscara neutra e quais as suas referências teóricas. Nas próximas postagens saberemos como fazer uma máscara neutra e quais exercícios são indicados para o treinamento com esta máscara.

Até mais.